segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Terezinha.

Foi assim: queda e frio. Lá estava ela procurando a certeza que a feriria ainda mais que a coroa de espinhos com a qual te apeteces vesti-la. Mas ela necessitava ver, tal qual uma criança que não suporta ter medo e finalmente olha debaixo da cama. Ela viu. O primeiro impacto não foi o desespero (na verdade, este nunca veio), mas sim o desnorteamento, em seguida a dúvida entre fugir ou permanecer e por fim as lágrimas quando foi ao chão.
Um dos piores sentimentos possíveis ao ser humano: se sentir traído – ainda que não o fosse – por aquilo que lhe pertencia. Mas pior que se sentir traído, é saber que não o é e ainda estar se humilhando. Afinal, lágrimas não são adequadas para uma madrugada lotada. Mas as lágrimas lembraram-na que o destino era seu aliado e implorou por socorro. Ele depressa apareceu e a fez perceber sua situação: ELA ERA UM ROSA. Sim, pois uma rosa caída permanece uma rosa.
Sempre se sentira prejudicada por não ter espinhos e era perigoso que tirasse sua redoma ainda que só para tomar o vento frio e, dessa vez, o vento fora demasiado gelado. Mas o destino a fez sustentar-se. Regou-se com gotas de orgulho e foi fazer o que necessitava que outra pétala visse (você estava ocupada demais para ver): ela sabia desabrochar.
As gotas de orgulho se misturaram às lágrimas e o resultado foi uma mágoa exuberante, naquele momento se sentiu liberta de sua redoma e repleta de espinhos, tão fatal quanto permite o feminino. E a viram desabrochando, alguns com olhos de pais, outros ainda de irmãos e a terceira foi a que teve coragem e se perdeu em espinhos quando lhe ofereceu a mão.

domingo, 14 de fevereiro de 2010


"Serei sempre apego pelo que vale a pena e desapego pelo que não quer valer." C.L.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Pequena Sophia

Foi bem assim:
Estava distraída e tu me pegaste. Em primeiro momento me senti invadida com tamanha interrupção em minha vida, mas, em seguida, percebi que o erro era totalmente meu em não prestar atenção ao que era muito antes necessário. Tremi com tamanha urgência que me interceptou. “E AGORA?” pensei. “Vou receber a conseqüência de não ter dado a devida importância a essa mulher que me cede a luz? E o que será de mim se ela resolver me deixar no escuro?”, pensei novamente. E de tão altos que eram meus pensamentos, a voz saiu muda para pedir desculpa.
“Sophia”, você disse em tom severo com as mãos na cintura e me olhando com aquele seu olhar que bronqueava mais que as palavras. Gelei! Sempre fora tão linda de todas as maneiras, sempre tão certa. E eu não sabia demonstrar o quanto me sentia NADA quando lançava esse olhar bravo contra mim, e nunca fui de gostar de me redimir.
Mas você estava correta (sempre). Eu não devia desviar, transviar, destratar, ignorá-la. Mas eu estava gelada, imóvel diante de você ali parada com seu olhar. E você percebeu meu medo e me atirou aquela pergunta irônica. Surpreendeu-me com aquela pergunta catastrófica e demorou até que eu me desse conta do que se consistia a ironia – compreenda, é difícil me dar conta de tudo em centésimos longos de um segundo veloz. Sempre você: olhar severo e palavras doces. Sempre certa.
Pensei veloz: “O morrer é sempre ruim, que bom que posso contar com você para me trazer de volta”. Dessa vez a voz saiu:
- Desculpa, professora, não penso mais na morte da bezerra.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

A carta


Ontem não ouvi sua voz. Você estava aqui, eu também estava e, portanto, não há desculpas, Rosa. E é isso? É isso que sinto quando pára de espetar-me? Eu sinto absolutamente essa hiperdosagem de vazio?
Nos libertamos, Rosa? Como se liberta do que um dia foi amor? Do mesmo modo que se separa da vida, acredito.
Não sei se sinto sua falta, mas como Rosa te digo: Vá e não se importe comigo. Terei de ser gentil com tudo que um dia virá a ser borboleta e, por favor, não se esqueça de me avisar quando perceber que não era o suficiente, quando se der conta que não deveria ter partido.
Talvez esteja mesmo no seu sangue essa escolha pelo “mal me quer”, mas no fim sempre houve essa sua vontade de mudar o instinto que nunca foi seguida.
Vá despreocupada, Pecado. Tenho minha redoma.
Beijos desta que te adora sem admirar,
Lilith