sábado, 2 de outubro de 2010

Memórias de um Frangipani Senil

Tive um Rosa certa vez. Minha rosa tinha as pétalas mais lindas e os mais afiados espinhos. Minha rosa era a mais amada flor do meu jardim. Esperava ansiosa o dia que minha Rosa me daria botões de flores.
Seriam tão nossas, seriam tão como ela. Minha rosa poderia espetar-me por toda a vida e eu não ligaria. Minha rosa era tão cheia de vontades. Minha Rosa era tão cheia do meu amor.
Dei a ela água, ar, um biombo e uma redoma. Amava tanto e mais que tudo a minha Rosa. Mas um dia, não sei o porquê, minha rosa passou a desgostar-me. Minha Rosa, não sei como, passou a duvidar do seu, do meu e daquilo que chamamos de nosso amor.
Pobre rosa... Pobre de mim... Quando quebrou a redoma que havia reservado para o nosso amor, cortou-nos ambas. Machucou suas pétalas tão lindas, tão perfeitas. E ver minha Rosa triste, ainda hoje, me dói mais que qualquer ferimento. Me dói da raiz aos frutos que ainda não surgiram.
Prefiro minha rosa zangada comigo que vê-la ferida. Ainda que ambas me doam, morro um pouco a cada vez que ela se rega de lágrimas. Não tento esquecê-la, não busco a impossibilidade. O esquecimento, como caco de vidro, fere de todas as faces, então prefiro ferir apenas um lado: o meu lado.
Agora passo meus dias vivendo minha rosa de lembranças. Sarando as picadas de seus espinhos e me cortando com os cacos da redoma que guardava nosso amor. Me firo enquanto vou recontando para o infinito em escrito a nossa história. A reescrevo infinitamente enquanto vão caindo ao chão, doentes de tristeza e vazio, as flores do meu frangipani.
Tive uma Rosa certa vez...

2 comentários:

  1. Muito lindo; seus pensares sempre me emocionam, como aquele "livro da vida" que li.

    Plante outra rosa em seu jardim

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  2. Tá lindo, amiga! Eu casava ein! ahhahahahahah

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