sábado, 3 de agosto de 2013

DO MAR.

Escrevo meu medo em sua areia
Na esperança que mandes uma onda apagar.
Fico no raso ainda que muito queira
Saber, se após o mergulho, fica maior o mar.

Se tens, no centro, um vulcão guardado por sereias,
Se tens medo que eu, navegante, venha dele me aproximar,
Saiba que medo tenho eu de me prender em suas teias.
Saiba que só não tenho receio de deixá-lo me queimar.

É noite; vejo as leves ondas que fazem dormir
O vulcão que não quer mostrar quem de fato é.
Deixe em amor, paixão e ciúmes ele explodir
Que para ti serei como lua, nua a controlar a maré.

Invejo o céu que pode, no horizonte, unir-se a ti: meu mar.
Por querer em ti mergulhar, termino por afogar-me em ansiedade.
Com os pés na água, olho a noite com medo de revelar
Que, na areia, espero que você apague a saudade.


Àquela que, já no nome, se faz poesia.

domingo, 16 de dezembro de 2012

O que carece



Segue solto um espírito em vagas noites candentes.
Alucinado de vazio e, de seu estado, descontente.

De pouco vale inspiração sem que haja um desafio.
Foda-se papel e métrica, sexo antes de um estilo.

Colocar-se-á em primeiro, o prazer livre de decência.
Falará alto o instinto sem definições de consciência.



quarta-feira, 12 de setembro de 2012

ALADOS.

Quando um pássaro está com a asa machucada, tentativas de voo só trarão céleres quedas. Se faz necessário a cura completa do ferimento para garantir um suave e belo planar. Creio que o mesmo ocorre com o coração. Resta-nos saber quando estamos prontos para alcançarmos o céu novamente. 

Pronta.



terça-feira, 6 de março de 2012

Da Pintura.

Era um triste quadro... Ela pendurada em um abismo, suspensa por um fio de memórias. Poderia ficar pendurada por toda uma vida, mas as lembranças que se acumulavam criavam espinhos na corda que a sustentava. Abaixo o vazio: capacidade de recomeço ou o nada. Não o sabia.
Pobre pintura manchada. Pálida, exceto pelo vermelho vivo que pendia de suas mãos fendidas pelos acúleos. Nos olhos apenas a tristeza de ter que tomar uma decisão de dois gumes: conservar a promessa de manter-se suspensa na linha que se tornava arame farpado ou atirar-se ao vácuo desconhecido.
Nos olhos apenas pesada água por ter de escolher partir o fio.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Marina morena.

Acontece que eu vejo nos seus olhos aquilo que ninguém vê... Vejo no seu sorriso coisas tão bonitas, mas que passam invisíveis. Talvez seja porque eles nunca olharam realmente pro seu jeito de olhar e de sorrir... Talvez você nunca tenha dado motivo para que olhem. Enfim, só quero confessar que olhei, ainda que sem sua permissão. Eles são lindos. Muito mais do que você escolhe mostrar.

(À morena de olhos d'água)

Da luta.

A luta do escritor, antes de ser para com papéis e palavras, é com o próprio estado de espírito. A escrita, infelizmente, requer uma dose de tristeza, agonia, ciúme. Escreve quem é/está triste, “gente feliz não escreve”. Digo, a escrita é se não o desabafo para as angústias cotidianas. Já o desabafo para a felicidade, por sua vez, é composto de sorrisos largos, mente leve... toda a inspiração – vivida, não escrita.
“Gente feliz não escreve”. Hoje não escrevo. Ainda que um beijo com gosto de vodka às 4 da manhã seja deveras poético.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Vinho do Porto

Abalava sua vaidade... percebia essa verdade naquele agora: embriagada de vinho do porto, uma chuva preguiçosa de pingos grossos escorrendo pela janela de seu apartamento na Tijuca, Janis berrando ao ouvido da noite feita. Desejou um cigarro, quase mais que à outra, desejou um cigarro. Não fumava nunca... pensou em principiar, mas soube que era um pensar irracional dos bêbados.

‘Hesitation Blues’ dava-lhe a esperança de que era apenas questão de espera, conseguiria apaziguar seu ego em breve. Mas sabia bem que não passava de uma na lista para ser deixada de lado. Sabia que sua função era antes apaziguar o ego dela... Daquela que lhe roubara um beijo e lhe dera motivo de agonia. Daquela que não conseguia traçar.
Creio que não era questão de incapacidade de construção e método literário... apenas não conseguia xingá-la, agredi-la, ainda que apenas com uma palavra. A vontade dos embriagados de machucar a razão de seu afogar nos líquidos de Dioniso não passava nem perto de seu querer por ela.


E Janis grita ‘Cry Baby’, a desesperada obedece. Alisava a face com o senso comum de gritar à noite chuvosa “Vadia, que sofra nas mãos de outra que nunca te quererá! Vadia! Não te quero! Não te quero!”, mas repassava as mãos na tez e crescia ainda mais a vontade de dar jeito àquele sentimento estapafúrdio, que nunca tivera ou terá razão. Queria dar seu jeito: tê-la na cama lhe beijando a boca, a nuca... mordendo-lhe o pescoço, puxando-lhe os cabelos...

Todavia, não queria que fosse esta a lhe ressuscitar o peito após os espinhos da primeira sempre amada. Sabia que era uma questão forte para o ego... não queria se ignorada por outra que não a primeira. Não admitiria. Está certo que sempre a associava ao sol, era próprio dela, o fogo. Era de seu signo. E a nossa embriagada, por ser ar, oxigênio, se sentia alimento daquele calor que lhe estava a consumir o peito, mas a entenda, não poderia ser vitimada mais uma vez.

Abalava sua vaidade aquela cena... os berros desesperados de Janis, ela no chão da sala junto aos seus papéis amassados, alguns cheios de rasuras, um lápis pendia da mão embriagada, deveras inútil em mais uma vez tentar traçar a dona de olhos francos. Bebeu, tentou chorar seu rancor em vão, quis um cigarro. ‘Maybe, maybe, maybe’. Virou o vinil: ‘Summer Time’.